Pesquisa
Um idoso é morto a cada 8 dias dentro de casa no Japão por cuidadores exaustos
Os dados são de uma pesquisa realizada pela professora Etsuko Yuhara, especialista em bem-estar social da Universidade Nihon Fukushi
Geral | 23 de Junho de 2025 as 14h 43min
Fonte: O Globo

A cada 8 dias, uma pessoa com 60 anos ou mais é morta por um parente cuidador exausto no Japão. Os dados são de uma pesquisa realizada pela professora Etsuko Yuhara, especialista em bem-estar social da Universidade Nihon Fukushi. Segundo ela, o nome desse ato sanguinário é care killing.
A especialista encontrou pelo menos 443 mortes em 437 casos semelhantes em 10 anos de reportagens compiladas em todo o país. Ela acredita que a frequência teria sido ainda maior se os casos não fatais tivessem sido incluídos.
Yuhara analisou reportagens de 38 jornais desde 1996, para encontrar assassinatos seguidos de suicídio e assassinatos envolvendo pessoas com mais de 60 anos que necessitavam de cuidados domiciliares.
Por grau de parentesco, os cônjuges representaram 214 casos, enquanto os pais e seus filhos, incluindo parentes por afinidade, representaram 206. Treze eram irmãos, sete eram avós e netos e três tinham outros parentescos.
O país vive uma crise demográfica com o encolhimento da população — 900 mil pessoas só no ano passado, a maior queda em 74 anos, segundo o Ministério de Assuntos Internos e Comunicações. Por outro lado, o número de pessoas com 65 anos ou mais aumentou, chegando a 36,24 milhões — o equivalente a 29,3% da população.
A professora analisou também as circunstâncias que levaram aos incidentes. Estima-se que mais de 5,5 milhões de japoneses necessitam de assistência diária e que quase 30% dos cuidadores têm mais de 70 anos. Esses cuidadores idosos se encontram em dificuldades econômicas, físicas ou emocionais. Se sentem sozinhos em meio à angústia e se sentem desesperançosos com o futuro. Em meio a tudo isso, eles decidem matar seus entes queridos e tirar a própria vida.
Em junho de 2024, um homem de 77 anos foi preso após matar a irmã de 81, que sofria de esquizofrenia havia três décadas. Ele cuidava dela sozinho em casa, em Tóquio, e apresentava sinais de depressão e demência. Em outro caso, Hiroshi Fujiwara, 81, foi condenado por matar a esposa cadeirante, de quem cuidava fazia 40 anos.
Desde que a lei de prevenção ao abuso de idosos entrou em vigor em 2006, o Ministério da Saúde japonês tem publicado números anuais de incidentes fatais envolvendo pessoas com 65 anos ou mais em atendimento domiciliar. A coleta de dados dos governos locais identificou 242 incidentes na década até 2021.
No último relatório do governo, 57,6% dos casos envolveram alguma forma de abuso físico, incluindo contenção involuntária (22,5%); o abuso psicológico é o segundo mais comum (33%), seguido por negligência/abandono (23,2%). Desconcertantemente, quanto mais cuidados um indivíduo necessita, mais severo é o abuso a que está sujeito. No Japão, 1 em cada 15 idosos relatou ter sofrido alguma forma de abuso.
Nas áreas metropolitanas, os idosos frequentemente enfrentam o isolamento. Só em Tóquio, mais de um milhão de pessoas com 65 anos ou mais vivem sozinhas e têm pouco ou nenhum apoio familiar. Apenas metade dos homens e 60% das mulheres com mais de 65 anos conseguem conversar com alguém todos os dias
“Em muitos casos o cuidador fica sobrecarregado e não possui habilidades necessárias para superar as diversas dificuldades, resultando em fadiga do cuidador. Em uma situação em que as pessoas normalmente não gostariam de abusar de outras, elas se tornam agressoras por se sentirem presas. Hoje em dia, é fisicamente impossível confiar a responsabilidade de cuidar exclusivamente a familiares”, afirma Yahara em entrevista a um jornal japonês.
A professora afirma que é importante ficar atento a alguns sinais do que você está sentindo ao cuidar de alguém, como por exemplo:
- Você se sente sobrecarregado ou preocupado o tempo todo?
- Você se sente exausto?
- Houve alguma mudança drástica no seu sono ou humor?
- Você está tendo problemas de saúde repentinos, como dores de cabeça ou de estômago?
- Você começou ou aumentou o uso de álcool ou medicamentos?
- Você restringiu ou alterou seus cuidados pessoais?
E afirma que é importante pedir ajuda, procurar serviços como entrega de alimentos, fornecimento de suprimentos de enfermagem e equipamentos para moradia ou contatos de casas de repouso ou instalações de vida assistida como forma de ajudar a cuidar de um ente idoso.
Reconhecer limitações e se cuidar é o mais importante. Bem como, dizer não se a tarefa estiver fora do seu alcance. Outras recomendações é encontrar maneiras de dormir melhor, se movimentar, manter uma alimentação saudável e procurar ajuda de um profissional de saúde para qualquer mudança repentina em seu organismo.
“Com o envelhecimento da população, o cuidado com idosos está aumentando. Os incidentes não diminuirão se não houver apoio suficiente para os cuidadores, que podem facilmente ficar isolados e sobrecarregados com suas tarefas. Os governos locais precisam analisar cuidadosamente as circunstâncias por trás dos crimes e trabalhar em maneiras de preveni-los", observou Yuhara.
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